quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Pupila quadrada

Meus olhos te aplaudiam
Enquanto tantos outros olhares me censuravam.
Vontade infinita de festa no meu coração
Gosto de velório naquilo que eu via.
Eu te via. Eu.
Mais ninguém te vê como eu
Os meus olhos são só meus
Mas você é do mundo, não me vê mais
Só vê quando outros olhares me buscam
Embriagados de um amor imenso
Como aquele que bebemos tempos atrás.
E sem me ver, você me sente
E prende a minha vida toda à sua
E mesmo não me querendo, ainda me quer
Como um cego por opção
Guardando a própria visão
Pra hora que achar mais oportuna.
Abra os teus olhos, meu querido
Enquanto minhas pupilas ainda são tuas.

Dor particular

Dorflex, cama e lágrimas.
Sim, a festa está pronta,
Só que é fechada.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Inferno das flores

Vivendo um inverno inacabado
Enquanto a minha primavera já devia estar bem resolvida...

Não-legal

Lembranças malditas e mal-educadas
Encontraram esse papel traidor e subornaram a tinta...
Lembro-me então que a gente era um só. E bastava.
Poeira e pó, fumaça e neblina. Solidão sempre acompanhada.
Soneto sem rima, mas poesia.
Poesia que buscou a métrica e se perdeu na busca,
Sozinha.
Hoje estás longe. Dos meus bem-quereres
E do meu próprio mal-me(te)-quero.
Viajas pelos caminhos mais tortos
Que eu não sei alcançar, nem quero.
Desististe de usar o sábio peito pra pensar
E agora só sabes usá-lo pra engolir e soprar
Mentira.
Ficção induzida. Alegria comprada.
Penso: quem me dera ser de novo a tua erva mais fina,
Pra temperar essa tua história sem ar, sem gosto,
E te queimar no abraço quente daquela nossa vida...
Mas já tens outra, barata, mentirosa e fria
E dizem que ela tem te feito feliz,
Ainda.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O que se pode ser

Silêncio. Faça silêncio.
Minha vaidade precisa descansar em paz.
A sua paz, paciência.
Faça o que eu quiser,
O meu grito mudo no seu ouvido não mudará.
Pode enlouquecer calada.
É poder pelo poder, poder não moderado.
Injusto? Sinta apenas.
E engula à seco, pro meu agrado.
Nem tente produzir saliva pro que não será escutado,
E não pense que a tinta no papel trará resultados.
Sinto muito. Sinto nada.
A cinta que te prende não será censurada.
Aceite a surra. Fique feliz amarrada.
Depois volte pra casa, chore escondido
E amanheça conformada.
Mas por favor, seja um nada.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Oração de Agosto

Vejo o mesmo pó do passado
Nos meus móveis novos de cada dia,
E esse mês com cara de limpeza
Vem querendo varrer meus desgostos,
Anunciando uma mudança de gostos,
Um novo tempo, tempo de ventania.
E não há como enterrar o que ainda vive,
O que, estando em mim, também sou eu,
Pois mesmo ensanguentado,
Empoeirado e despedaçado,
Um coração lento ainda é um coração,
E não deve nunca ser jogado no lixo
Nem debaixo da terra largado.
Cremamos então nossos fantasmas vivos,
Pois nem essa terra ingrata os mereceria.
Abramos todas as janelas, deixemos o vento
E novos aromas invadirem o lar,
Ainda que o novo também venha um dia
Feder esse maldito e ingrato enxofre
Que agora nosso inverno finda.
Acendamos os fogos, busquemos calor.
Paremos de conservar velhos corpos no gelo.
O que nos resta é jogar as cinzas pro ar
Ou, novamente, pra debaixo dos tapetes.
Não importa.
Cada um sabe a limpeza mais adequada
Depois que um cadáver deixa a própria casa.
Mas, que não deixemos o fogo de lado, jamais.
Amém.

Culpa falsa

Naquela clichê hora
Chorei todo o meu álcool
E jurei querer morrer
Sem nem saber por quê.

Sem sequer me sentir
Verdadeiramente culpada,
Vi-me naquela mesa de bar
Patética, abandonada.

E quem me acusava?
No fundo sou sempre eu.
Sou eu a maior culpada
Pelas culpas que me são dadas.

sábado, 2 de julho de 2011

Catando paixão

Distraída.
A minha vida apresentou-se toda na minha frente
Em forma de mil pedaços.
Tantos grãos inseparáveis,
Que precisavam ser analisados um a um.
Tentei ver em cada um daqueles pedacinhos
Uma nova possibilidade,
Analisava com cuidado e atenção,
Mas cada grão que eu puxava em minha direção
Trazia inevitavelmente um pouco de você.
Difícil separar passado e presente,
Impossível selecionar a memória.
Saudade.
De repente ouço:
- Filha, acorda, preciso ainda hoje do feijão!
Sim, meu amor também existe nos feijões.
E então o entreguei para que minha mãe cuidasse.
Logo mais ele será servido a pessoas,
Que por mais que me amem,
Irão mastigá-lo todo, sem sequer pensar no que estão ingerindo.
É sempre assim.
O amor nunca é devidamente apreciado.
O meu também não.
Sei que a minha melancolia estará no cardápio de hoje,
E ninguém sabe.
Tempero mais forte que o sal,
Salgado em lágrimas.
Uma lágrima.
E acabei esquecendo-me de avisar minha mãe
Que independente do que ela faça
Hoje o feijão não ficará bom.

Malbec

Noite, solidão familiar
E essa bebida seca com gosto suave de sangue
Embriagando-me pelas minhas confusas veias.
Minhas faces quentes e coradas,
Feito cicatrizes marcadas pelo porre de saber
Que do amor serei sempre uma escrava.
Mesa teimosamente muda,
E meus bêbados cílios por segundos dormem
Para que eu possa te desejar nos meus sonhos.
Olhos abertos, mar sem fim.
Engulo então minha melancolia,
Bebo em silêncio mais uma taça
E deixo que as lágrimas do vinho chorem por mim...

Covardia

E mais uma vez você me cala
Com esses seus versos roubados
Que nunca terminam no ponto final.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

21 de junho

Frio

O mesmo gelo covarde em todas as partes do meu corpo
E pra mim que pensava que um dia nada fosse mudar

Inverno

Sinto agora uma vontade inexplicável de apenas queimar
Queimar o que um dia já foi e me queimar no que ainda virá

Fogo

Correndo quente pelas veias nas quais me perco tanto
Meu coração ainda é um mundo de incertezas e desenganos

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O eclipse sou eu

Carros passando,
Pessoas indo e vindo,
Vidas tão comuns.
Ninguém viu o que estava ali.
Ninguém sabia o que acontecia aqui.
Mas eis que ela veio brincar
De ir e vir, de aparecer-sumir.
Sorriu lindamente, voltou
E novamente bagunçou tudo dentro de mim.
Quem subia o morro atrasado não viu,
Quem descia apressado também não.
Também, ninguém poderia notar
O que houve entre ela e eu,
Nem sequer suspeitar
O que sempre existiu entre eu e ela.
Entre as luzes da cidade, seus barulhos e suas pessoas,
O nosso silêncio, o nosso breu.
Muitos perderam o que houve com ela naquela hora,
O mundo nem imagina o que comigo aconteceu.
Mas ela pode,
Ela é a lua.
E eu?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Tatuagem de Areia

Esse tom de areia por todo o meu corpo
E tua pele ainda nele tatuada
Como uma maré que nunca baixa
Uma ressaca de tantas lágrimas
Tantas ondas pesadas de calor
E uma queimadura que ficou tão salgada
Frias gotas que não deveriam molhar mais nada

Mas basta em pensamento nadar
Que me afogo outra vez nessa tua vida
E em nenhuma outra água desejo mergulhar.

Lua Nova

Nua
Sou lua
Sou tua...

Tatua minha pele no teu corpo essa noite
Mas amanhã deixa outra mulher machucar
Todas as cicatrizes que eu te deixar

Pra você sou lua nova:
Estou sempre,
Sem estar.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Libertações

A minha melancolia é sempre a última a se embriagar.
Sempre há uma dose afim de mim.
Cada gota de cada coisa torna-se necessária
Quando não existe mais o que se engolir.

A minha ansiedade é sempre a última a se deitar.
Sonho sempre com os olhos clareados de dor,
E vivo insonemente pensamentos virtuais,
Querendo adormecer o que nunca acordou.

A minha poesia é sempre a primeira a me machucar.
No entanto a carrego com carinho nos braços
Como uma cruz que não tem peso
E ainda assim tem o poder de libertar.

sábado, 30 de abril de 2011

Anoitece em mim
Tua ausência
Escuridão

Ausência do sol:
Solidão.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Cinema mudo

Enquanto ela escrevia
Algum vizinho fazia pipocas
E outro ouvia um blues.
O cheiro da margarina
E o som daquele sax
Lembraram-lhe cinema.
Caneta solta. Viagem.
Quando ela voltou
Só um suspiro no papel.
Desistiu então de escrever.
Filmes podem ter finais felizes,
Sua poesia não.

Bicho solto

Vai menina, solta esses cabelos
E deixa-os sentir o vento que dobra ali na esquina.
Caia no abismo que é o mundo lá de baixo
E permita-se voar. Sinta!
A tua beleza é tão mais linda arredia.

O amor tem mesmo dessas coisas, eu sei.
Machuca e cura. Nunca cicatriza.
Mas por favor, não desista!
Nenhuma mulher passa a vida contente
Na sua pequena gaiola de menina.

Reticências

Se foi o fim,
Se tinha que ser assim,
Eu ainda não entendi.
Na verdade nem deu pra sentir.
A tua presença foi tão passageira...
Como aquele primeiro amanhecer,
Interrompido às secas.
Silêncio tão imenso de um simples abraço
E duas vozes que não sabiam o que dizer.
Não era necessário.
Bastou aquele frio momento,
Aquele tempo sutilmente acabado,
Pra que um outro dia existisse
E eu voltasse para os teus braços.
Tantos dias amanheceram pra nós...
Mas agora você se foi novamente
E eu ainda não sei se outro dia nascerá.
O frio está voltando, devagar.
Estou aqui confusa, congelando,
Por não saber se anoiteço em outro cobertor
Ou se ainda espero pelo calor daquelas manhãs...

terça-feira, 26 de abril de 2011

A Resposta

Amor é o que a gente quiser deixar ser
E, algumas vezes, até mesmo
Aquilo que a gente nunca permitiu que fosse.

domingo, 24 de abril de 2011

Silêncio inafiançável

Há um quê de romantismo na maldade.
Mas houve tanta maldade no nosso romance
Que ele se tornou imperdoável.
E você pecou por tantos passos não dados,
Abraços cortantemente embaraçados
E por palavras que pareciam impossíveis.
Pecou pelas mentiras friamente repetidas,
E aquele sentimento calculadamente inventado.
Pecou pela distância dos nossos lábios.
Agora ficou o avesso de tudo o que já foi
E o que há em mim de mais apagado.
Apenas aquele silêncio nos meus olhos,
Minha indiferença pelo seu crime inafiançável.
Você deveria ao menos ter me amado
Na medida exata do quanto me magoou.
Pecar pelo excesso é menos incoerente.
Pecar por amor é ao menos perdoável.

sábado, 23 de abril de 2011

A doçura do Sal

Cansada dessa vida de vale nada,
De momentos intermináveis de faz-de-conta,
Com personagens tão bem desenhados
E sem movimento, sem vida, sem sangue.
De que isso vale? Nada.

O seu sorriso ensaiado e as suas respostas gravadas
Não arrancam mais aquele encanto dos meus olhos,
E eles agora riem de, e não mais para você,
E do seu pobre espetáculo, abandonado,
Solitário palhaço.

Quero o vermelho mesmo que com dor
Frente a esse verde-esperançoso sem cor alguma.
Quero um artista errado, sem estética montada
Que me apresente a vida, todos os dias, irregrada
E da maneira mais bem-humorada e humana.

Quero a vida antes no sentir do que no saber.
Quem sabe assim os dias me aplaudam
Sentindo no cheiro do sal e no gosto da flor
A doçura de me saber viva e destemida.
O conhecimento nunca traz alegria.

domingo, 17 de abril de 2011

Provérbio errado

Pra que namorado?
Se tenho nos meus retratos
As mais amigas companhias
E os mais felizes momentos registrados...

Pra que namorado?
Se todo amor termina mesmo em lágrima
E o choro já é um companheiro permanente,
Melhor ter cada dia alguém diferente ao meu lado.

Pra que namorado?
Talvez seja pra justificar os nossos pecados.
Mas eu desobediente ainda desconfio da minha vó
E sigo sozinha, mesmo quando posso ser bem acompanhada.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Gastronamor

E se você me fritar e eu gostar?
E se eu gostar demais?
E se eu gostar demais de gostar de menos?
E se desgostar, e o gosto ainda assim for bom?
E se melar, e o tal melado nos grudar?
E se queimar, e o fogo não machucar?
E se esfriar? E se de novo esfriar tudo?
Voltamos a nos cozinhar?

terça-feira, 12 de abril de 2011

Chuva em mim

Choveu em mim tuas lágrimas
Molhando cada folha dessa árvore
Seca e de raiz profunda que sou eu.
Com flores espinhosas e frutos podres,
E que ainda assim de você não se hidrata,
Nem suga nenhuma gota da tua vida.
Choveu você em mim, sempre chove,
Mas chove torto e nada agora rega.
Não sei mais se sou árvore ou pedra.

Doação

Sonho com o que o escuro dos meus olhos não alcança
E o que só o silêncio não explica.
Sonho com gritos enfurecidos de vida,
Em beijos serenos.
Neblina.
Visão confusa, mas ainda atenta,
Aceitando minhas próprias doenças,
Minhas culpas tão facilmente absolvidas.
Boemia?
Amor furiosamente pacífico,
Que só ataca heróis que se deixam morrer,
Madrugando, em mesas de bar, virando lágrimas.
Bebida.
Companhia das minhas aventuras mais reprimidas.
O meu sonho é do mundo, não é só meu.
Sonho com freqüência acompanhada.
Acordo sozinha.
O mundo também acorda com minha dança matinal,
E sempre fecha as cortinas pra quem comunga a própria vida,
Antes de recomeçar seu pesadelo particular.
Infinita...

sábado, 9 de abril de 2011

Banco de Cuidados

Enquanto eu ainda estou aqui na tua vida
Contando os minutos que me são de direito
Esperando que você finalmente me atenda
E injustiçada, pensando no alto preço que pago
Pra estar ao teu lado, mas sozinha

Posso de repente lembrar com mais cuidado
De outros quinze que agora me aguardam
Aqui do meu lado, ali na esquina
Valorizando muito mais o meu sorriso
Com atendimento preferencial e sem fila.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O encontro

Pálida, fria, tremendo.
Estou aqui agora, nervosa,
Encurvada diante de mim mesma
Rezando por alguma certeza,
Ou pelo menos uma frase pronta pra dizer.

Talvez esperando só um telefonema teu
Pedindo pra eu abrir logo a porta,
Pra eu não mais me fazer de morta
Nem fugir novamente da nossa vida,
E voltar pra’quele amor de ontem, resolvida.

Mas a única coisa que consigo agora
É morrer de medo do que eu possa ser,
Nesses infinitos minutos que vão existir,
E tudo o que neles pode acontecer,
Antes de te ver.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O canto de Libras

Só me restou ser essa bailarina desafinada,
Dançando sozinha uma vida parada,
Pois o canto que trago alfinetado na garganta
Não consegue dizer mais nada.

Agora só canto pelas minhas mãos,
Abraçadas sempre a uma folha vazia,
Criando inúmeras melodias vans
E canções que nunca serão ouvidas.

Instrumento sem música
Voz sem som
Eu sou o silêncio.
Silêncio.

Canto a humana poesia nesse momento.

Dívida eterna de uma mente com lembranças

Você não pagou sua dívida com meu coração
E me deixou individada com o mundo.
Estou agora devendo uma vida,

Negociada com lágrimas de espera,
Sorrisos nostálgicos,
E uma falta gigantesca do teu colo.

Buscando sempre o teu beijo apertado,
E aquele teu abraço de quebra-cabeça.
E confusa.

E se eu for obrigada a comprar outra vida
Que não seja a tua-minha,
E achar caro demais?

E se, deslumbrada com o novo,
Eu gostar das peças desse outro jogo
E não te quiser mais?

Fora qualquer resposta,
Existe agora apenas uma saudade,
Saudade imensa de tudo o que a gente viveu em prestações,

Pequenas parcelas de tanto sentimento.
Pequeno tempo eterno,
Infinita saudade.

E agora me pego aqui, idiota, vivendo de memórias,
Vendendo-me por tão pouco pela tua simples presença,
Sendo que pago sempre uma fortuna por esse teu sorriso barato.

domingo, 3 de abril de 2011

Café com Leite

Há muita cafeína nesse corpo
Que agora não dorme,
Insone esperando o teu.
Que sonha com cada gota quente
Que da tua boca já saiu.
Gotas negras de um amor sem razão,
De um amor sem distância,
Sem verdade.
Sem vergonha.
De um sentimento infinito,
Mas sempre acabado,
Marcado pelo cheiro do teu quarto,
E por aquela coisa que só o pó
Do meu peito despedaçado
Parece ser capaz de produzir.
Pra matar a tua sede de mim
E a tua fome da minha vida,
Tua vontade insaciável do que poderia ser,
Não tivesse passado da hora,
Não estivéssemos separados demais.
Distantes no tempo e no espaço,
Distantes nos nossos retratos,
Mas com a proximidade imensa
E quimicamente perfeita
De dois seres opostos,
De duas substâncias que nunca se retraem.
E como leite e café
Nossas vidas sempre se atraem.

Suicídio do Passado

A morte já não é o fim.
Morrer para si pode ser um recomeço
E suicidar-se na vida de alguém
O começo de uma nova vida.
Já não há certezas de tempo,
De certo e errado.
Apenas de um peito que bate duvidoso
Pedindo arrego,
Sofrendo calado,
Molhando a face de quem enterrou uma vida
Porque assim se fez necessário.

Conselho

Doendo novamente
O que já não tinha mais pra onde doer
Bem que minha mãe me dizia
Que o que parecia nunca era
Que poetas não amavam como na poesia
E que quem sofreria mais seria eu
Sim, mãe nunca erra
E a minha também não errou
Hoje meu coração entendeu...

Ócio Poético

Quedas
Retrocessos
Passados inacabados
Futuros incertos

Cores mortas
Noites fridamente frias
Dias quintanescos

Sonhos constantes
Abismos coloridos
Caio.

Caneta
Tinta
Poesia.

Clariciar...

É bonita.
É a vida.
São os pássaros nos quais nos tornamos,
São os vôos que arriscamos dar...

segunda-feira, 28 de março de 2011

Desabafo de um eu-ateu-místico-cristão

Se há em mim um Deus, ou qualquer deus,
Se vários, ou um só,
Se há uma mínima verdade,
Na qual eu possa agora descansar meus pensamentos,
E um único ombro onde desabar todas essas lágrimas,
Presas por um nó infinito na minha voz,
Voz de quem agora já não canta nenhuma beleza,
Dessa boca que sorri mergulhada em tristeza,
Se há qualquer coisa de maior em mim que eu mesma,
E que possa me salvar de mim
E desse castigo que tem sido ser quem sou,
Pelo amor desse deus que eu desconheço,
Apareça agora e me liberte,
Pegue-me nos braços de uma paz qualquer e me carregue,
Porque a vida agora anda rastejando dentro de mim.

Guerra em mim

Quando irei desarmar meu peito
E enfrentar de frente as guerras nas quais me meto?
Quando perderei o medo?
Não há como lutar sem coragem.
Não há como ir a uma guerra e não se machucar.
Ninguém vence sequer uma batalha sozinho.

Não há guerra e não há amor sem riscos.

Talvez o que me falte seja um companheiro de luta.
Não apenas mais um soldado, armado pela força,
Mas um guerreiro, armado por sonhos.
Aquele por quem eu vá a Roma sem sequer uma palavra.
Aquele por quem toda guerra seja válida
E toda marca seja justa.

Constatação besta

O relógio andando,
O meu tempo parado,
Desordem no quarto,
Atraso nos trabalhos,
Bagunça no peito,
Coração abandonado,
E só.

Eu preciso, preciso tanto
Que apareça alguém
Que pare o meu relógio,
Acelere meu tempo,
Bagunce comigo o meu quarto,
Aquiete meu peito
E adote meu coração.

Preciso, preciso muito
De um novo amor pra curar essa solidão.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Eu não

A minha relação com o "não" é incoerente.
Quando ele sai de mim,
sai com a facilidade de quem não se permite,
de quem tem medo de sei lá o que,
sempre.
Relação fácil e constante.
Rotineira, eu sei.
Mas quando ele me vem,
vem com o peso de alguém imaturo,
que não sabe lidar com as negações
ainda,
de quem se frustra com qualquer censura
e, admito, tem um ouvido mimado com "sim's"...
O que eu ainda preciso aprender
é que ao dizer não aos outros também digo não a mim.
A censura é mútua ao não se permitir.
Talvez por isso, também,
o meu grande descontentamento comigo mesma
ultimamente...

terça-feira, 22 de março de 2011

Atemporal

Antes do anoitecer te vi
e antes do amanhecer nosso filme teve um fim.
Estou aqui agora
tomada pela sensibilidade confusa
de uma alma poética que há muito vive assexuada.
Não não, ainda há muito de amor em mim.
Vivo tomada por uma alma bi, tri,
poliemocional, diria...
Mas sozinha.
Talvez.
Talvez um novo verso saia,
estupre-me esse momento e me salve.
Talvez ele fique e me mate.
Talvez ele já seja um prematuro,
nascendo agora, novo herdeiro órfão de mim mesma,
filho de quem eu nem sei quem sou.
Mas quantos nascimentos ainda terei que ter para viver?
E me ser?
Quantos versos ainda terão que de mim partir,
para talvez, um dia, te ter?
Não sei.
E antes do entardecer de hoje eu gostaria de te ver...

sexta-feira, 18 de março de 2011

Aviso:
Devido ao significativo número de comentários anônimos, e por sentir que o foco dos mesmos nem sempre era a poesia, fugindo do propósito do blog, e mais ainda, diante da minha dificuldade de lidar com as coisas "ocultas", resolvi mudar as configurações dos comentários para apenas pessoas identificadas. Desculpem-me se isso parecer censura, ou que não gostei do que li (em alguns casos gostei bastante), mas é algo meu que não consegui não considerar. Espero que alguns "anônimos", caso realmente ainda tenham interesse, se denominem em futuros comentários... Abraços! E obrigada pelo tempo dedicado durante essas visitas.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Milagre

Se o positivo não pode com o negativo
Eu não espero que todos os dias um novo milagre apareça
Essa coisa de fator só funciona
Pra quem escuta apenas a cabeça.
Nada nunca deve ser separado
A foto e o porta-retrato, o peixe e o aquário,
Nem mesmo os opostos
O belo e o feio, o redondo e o quadrado.
Só a Esquerda e a Direita,
Por uma questão funcional de lados...
Só a razão separa.
Mas eu não, eu tenho um coração elétrico
Que nunca se importa com o que é incomum
Que espera apenas que o milagre da vida aconteça
E que continua tentando se unir a todos os pólos do mundo.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Circo Voador

Você chegou
Circo voador, passou por aqui
Fingiu sonhar comigo
E me fez pular do meu trampolim
Encantada, me fiz escrava
Servindo aos seus pés todas as minhas faces
Todos os pesares
De um triste palhaço
Ou de um domador ruim
Viu-me louca
Ciumenta e solta, beata e meretriz
Menina forte
Mulher sem vida
Descobriu-me onde nem eu me sabia.
E ao seu lado eu me fiz atriz
Dançando canções conforme quis
E ao embalo desse amor pagão
Vi-me um dia numa dança sem razão
Em um palco sem luz, dançando iluminada
Nenhuma platéia apaixonada
E então pude perceber que o nosso espetáculo já tinha um fim.
Circo voador, você voou sem mim.

Anônimos

Entre palavras tão escuras
De um claro grande mistério
E de um sentimento tão navegante
Desses que só existem de passagem
Fica apenas a curiosa pergunta
De quem não sabe a quem responder:
Será que os anônimos se atraem?

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Opinião hojística

Eu me dou pouco tempo
Pra matar isso que hoje me mata.
Eu me dou apenas alguns dias
Pra pelo menos me permitir mudar,
Ou não mudar, mas ao menos tentar...
Que seja estudar mais,
Aprender um novo idioma,
Tocar um instrumento
Ou até viver um novo amor...
Viver de música, de poesia e só.
Sozinha.
Mesmo acompanhada.
Eu me dou pouco tempo
Pra fazer essa minha maldita alma boêmia
De pseudo-artista
Tentar ser feliz.
Chega de dor.
Chega de sofrer por tudo e por todos.
Chega de sofrer por mim e pelo mundo.
Por quem não merece, ou merece, sei lá...
Mas chega!
E ponto final.
E que isso vença minha inconstância
E dure pelo menos até amanhã,
E não seja novamente reticências
De um coração geneticamente confuso.

Anilha

Eu me dôo tão leve
Mas o peso que está embutido em mim
Sempre me impede de levantar vôo
E nunca me permite chegar a outro lugar.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Aceite

Eu já sei e espero que você saiba
Que os meus amores serão sempre intensos
E todos serão para sempre
Um jamais irá curar o outro
Pois o meu coração é imensamente irracional e louco
E há em mim uma memória tão sem razão.
Tudo em mim é amor e sempre foi
E eu não saberia amar à prestação.

Existência

Se a poesia que (talvez) há em mim
Não puder haver também em tantos outros corações
Também inquietos
Direi então que é por que ela nunca existiu.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Sonho

Que bonito seria
Se todos os meus quereres de um dia
Fossem a verdade dos outros tantos minutos
Lentos, de todas as noites insones
E sozinhas...

Noite

Anunciadamente escura
E cheia de luz ainda assim
Iluminando o final de um túnel com fim.
O término de um tempo que persiste
Buscando o sorriso que ainda existe
E que falsamente diz por mim
Sobre alegrias que ainda não vivi
Nesse tempo em que me perdi.

Ele

Meu coração?
Se ele soubesse o mal que me faz
Se tivesse coragem de me dar paz
Diminuiria seu exagerado amar
Iria embora, em outro corpo morar
Ou mudaria esse nome ingrato
Cheio de sonhos inacabados
E já marcado pra só amordor dar.

Ah, amiga minha

Minha saudade
Minha sobriedade
Meus dias ruins
Agora também seus...
Sua presença
Suas dores
Seus amores
Agora não mais meus...

Mas que coisa é essa, amiga
Que não sai aqui de mim
E que se alegra só de te saber assim
Com esse sorriso no rosto
Esse andar sempre jocoso
E essa velha mania de viver
Viver assim...

Que pra quem só se verá de partida
As vidas sejam mais que lindas
E nossas histórias repetidas
Ao longo dos caminhos adotados
Do vento e dos calendários.

E que o carinho que nos uniu
Seja leve e voe alto
Pra nos alcançar em outros lados
De novas companhias e novos retratos
Ladeando sempre por momentos afins...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Responda

E quando eu resolver dançar com outro par
E esse seu tênis novo não me acompanhar?

A falta

A falta dessa minha janela
Será uma falta não apenas dela
Mas de todo céu que faltará
E de toda visita lunar
E do raiar de cada insônia
E de toda gente que passa,
Descendo chorando,
Subindo com graça.
E dos seus olhos de cachaça
Buscando nela a luz que te falta.

VagalumeMente

Vagalume vagou no meu quarto.
Vaga estava a minha noite,
Vagando no meu peito vagas
Vulneráveis a amores vazios,
Vendo se minha vida iluminava.

Nova interrogação

E se não bastasse mais que um olhar
De uma fixação tão sem por que
Para em lágrimas póstumas
Achar então o que não se podia ver
Apresentado em olhos de tanta saudade
De uma saudade doída do que nem se sabia ter
Contraventor,
mas amor...
E se?

Castigo

Silenciosamente é maior.
O grito, apesar de dito,
Não diz tanto a um ouvido
Que já espera ser punido.

A espera

O corpo tremendo
O peito aquecido
Uma desordem na casa
A ansiedade de um sino
E essa angústia com data marcada.