segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Inconstância

Essa falta de certeza
Esse jogo por debaixo da mesa
Lembranças incoerentes
E o cansaço que de repente chega
De trocar tanto as fotos do meu quarto
Num indo e vindo insuportável de quereres
E mesmo ainda gostando
Saber que é preciso tirar algumas de vez
Num aprendizado amargamente atrasado
Pois até as fotos envelhecem e entendem
Que algumas lembranças precisam ser renovadas...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Interrogação

Como pedir ao corpo que ele durma
Quando tantos pensamentos líricos mandam na gente
E o bobo do coração é o mais obediente?
Como?

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Embriagante busca

Unhas vermelhas tocam o teclado do meu celular
Não sei por que essas mãos bêbadas insistem em te procurar
Se elas já sabem que te tocar é perigoso
E que as marcas que ficam no final desse jogo
Vão sempre muito além das que ficam nas tuas costas

São fraturas secretamente expostas
Expondo a dor de um amor que queria amar e não amou
Porque amar se fez impossível
E agora nos convence apenas do gosto infinito
Da partida sentimental que juntos não soubemos jogar

domingo, 7 de novembro de 2010

Coincidência?

Madrugada, música, bebida e um beijo roubado
Depois um novo encontro em uma noite qualquer
Belos momentos cumprimentaram um novo dia
E tudo o que poderia ter sido a partir daí
Foi perdido por um outro copo qualquer de bebida,
Por músicas novamente vazias
E pelo erro inocente de terminar a noite
Beijando uma boca que ao seu lado vivia

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Nossa conversa

A noite corre para que o tempo chegue logo.
Para que o nosso tempo chegue.
Chegará? Ou nunca mais?
Nunca mais saia de mim,
nem me liberte dos seus abraços,
se no seu peito o meu nome ainda pulsar.
Mas se pra você ele já for mudo,
então diga logo e vá depressa,
pois ele ainda pode em um outro corpo cantar.
Chega de mentira, de fingir sentir.
Não me queira mais se não puder possuir.
Eu já lhe disse tudo que minha dor podia querer,
então se decida, não me crie novas dores.
Deixe-me então lhe esquecer.
E, entenda de uma vez, meu menino,
ter que pensar no que lhe dizer
também é pensar em você...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Inquietude

Pesadelos em noites de insônia.
Madrugadas iluminadas só pra quem passa pela minha janela.
Já não há poesia o bastante pra me acompanhar,
nem respostas esperadas capazes de acalmar.
E o vento continua invisivelmente embriagante.
Silêncio.
E quando não for mais o bastante,
ainda haverá aquela velha varanda,
onde sol e lua também se amam em desencontro,
e aquela mesma pequena rede,
de onde sempre se é possível sonhar mais...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Eu dividida

Queria não sentir
Mais nada
Mas nada é muito

Muito pouco

Quero sempre tudo
O que posso
Não posso nada

Sinto muito

A vida toda
Parece nada
E dói tudo

Tudo e nada

Conversa besta

- O nada basta.
- Basta nada!
- É, nada me basta...

domingo, 15 de agosto de 2010

Mês Oito

Agosto, congelante,
e eu ainda me derreto ao seu gosto.
O frio de fora protesta o calor aqui dentro
e eu aprecio sozinha a cortante melodia do vento.

Aguardo friamente por mais um desgosto,
um gosto amargo, um corte...
Um recorte no meu tempo,
no tempo que eu sei que precisa ser apagado.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Silêncio terapêutico

E todas aquelas palavras
que sempre falam por mim,
tão impulsivamente, intensamente...
Que me atravessam, me doam,
me apresentam e me confessam.
Que entregam a minha essência,
aí então já nada particular...

Todas aquelas palavras
que sempre me fizeram
e me fazem, enfim,
existir,
e ME ser...

... agora estranhamente faltam aos lábios,
e simplesmente se calam,
pra apenas uma dor morrer.

Coração de Pedra?

Ah, se esse frio lá de fora pudesse congelar o coração aqui dentro...

(Des)ligada em você

O inacabado me impede de fechar os olhos...
E não ligo, só quero estar off.
Meu corpo já se cansou.
Meu coração está cansado.
Eu cansei.
Cansei de não me cansar de você.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Memória

Escrevi o seu nome e queimei.
Mas o meu nome ainda te lembra.
É chegar a estação das flores
e nasce novamente aquele teu poema,
em que a primavera é sempre primeira.
O fogo aí não encontra folhas secas,
como então queimar minhas próprias letras?
Pequena sílaba maldita.
Chamaria-me então Scila,
mataria assim um pedaço de mim
e uma parte de ti em mim.
Mas não mataria a primavera,
que nunca precisará de um alfabeto pra existir.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Mentira afinada

Uma música bethânia tocando,
água morna queimando meu corpo,
um banho interminável para esconder uma lágrima.
Tortura íntima para salvar a alma.

Alma lavada, volto ao mundo.
Ele novamente me aceita de braços abertos.

E eu, sem seu abraço por perto,
me aperto em corpos estranhos,
me sujo em bocas profanas,
para amanhã não acordar mais bethânia,
e me lavar sob as águas frias da alegria.

Ser fria.
Ser mentira.
Ser nada.

Mais fácil dançar uma vida de mentira
que cantar uma verdade desafinada.

terça-feira, 23 de março de 2010

Boleto da vida

Ultimamente,
tudo é a longas prestações.
Mas a vida é preciso ser ela toda,
todos os dias.
Viver em partes cansa.
A minha vida
eu prefiro pagar a vista.

As letras em mim

As palavras me bastam.
Com elas falo,
leio,
canto
e escrevo.
E o que não der pra resolver com as Letras,
eu resolvo com um beijo.

Contradição

Como pode?
Você que vive da História,
esquece o nosso passado...
Você que gosta tanto de histórias,
joga fora o que viveu ao meu lado...

segunda-feira, 22 de março de 2010

Mais um amanhecer...

Agora a caneta corre deitada pelo papel
simplesmente porque o tempo voou,
e ela precisa correr pra alcançar
o cansaço de quem ainda nem se deitou.
E, pegando emprestadas algumas palavras de Hilda Hilst,
"...ISSO sem nome pode ser um todo
Que só se ajusta ao Nunca. Ao Nunca Mais."

domingo, 21 de março de 2010

Isso

E essa coisa que temos juntos,
sempre melhor que a rotina lá fora,
sempre maior que o resto do mundo,
esquecida do tempo e das nossas memórias,
nos faz loucos apaixonados,
ainda que só nos segundos
que nos temos nos braços...

Insônia

A Sônia sempre aparece na hora errada
e sua companhia sempre me cansa.
Mas é in Sônia que me encontro mais
e só na sua presença que eu me (in)canto.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Medida errada

E quem foi que inventou
que ser forte é não sofrer?
Pois tenho força o suficiente
para enfrentar mil soldados,
e lágrimas o bastante
para chorar a cada batalha...

Minha dor

Do meu coração sei eu...
Ninguém sabe a dor que ele me deu,
pra dizer o que em mim
doeu
ou não
doeu.

Carência

Era madrugada.
Solidão.
Abri a janela...
O vento entrou pelo quarto
e me tocou por inteira,
suavemente.
A lua acariciou-me.
Não estava mais só.
O vento e a lua então brincavam comigo.
E nós três, ali,
sem sequer nos movermos,
nos tocávamos.
Fechei a janela.
Novamente solidão.
Mas, naquela noite,
tive o carinho mais sincero do mundo.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O pior sentimento do mundo

Meu corpo e meu coração choram.
Eles não sabem mais como fazer
meus olhos cuspirem
sequer uma gota de alegria.

A tua presença me rouba o dia
e a tua ausência me tira uma vida.
Como esperar para ver novamente
o sol nascer pela minha curiosa janela?

A manhã sempre lambe a minha alma
e ri dos meus sonhos ruins.
Você brinca com tristes verdades
e vomita profecias vazias em mim.

E é na escuridão que me reconheço,
é no meu sono que te esqueço,
pois só no fim as histórias são felizes
e só no começo os amores – como esse
- possíveis.

A dança

Torna-se constante,
por algumas vezes,
o de vez em quando.
Meu coração mudo
grita a mesma batida,
repetidamente.
Torna-se sempre.
Ignoro-o.
Meu corpo não quer mais ouvir
o teimoso batuque que diz
que algumas coisas nunca mudam.
Desespero-me.
Talvez o melhor fosse aceitar
que esse meu pequeno músculo
deveria esperar para dançar,
e mesmo exausto, dançar
a sua batida
à minha porta.