sábado, 2 de julho de 2011

Catando paixão

Distraída.
A minha vida apresentou-se toda na minha frente
Em forma de mil pedaços.
Tantos grãos inseparáveis,
Que precisavam ser analisados um a um.
Tentei ver em cada um daqueles pedacinhos
Uma nova possibilidade,
Analisava com cuidado e atenção,
Mas cada grão que eu puxava em minha direção
Trazia inevitavelmente um pouco de você.
Difícil separar passado e presente,
Impossível selecionar a memória.
Saudade.
De repente ouço:
- Filha, acorda, preciso ainda hoje do feijão!
Sim, meu amor também existe nos feijões.
E então o entreguei para que minha mãe cuidasse.
Logo mais ele será servido a pessoas,
Que por mais que me amem,
Irão mastigá-lo todo, sem sequer pensar no que estão ingerindo.
É sempre assim.
O amor nunca é devidamente apreciado.
O meu também não.
Sei que a minha melancolia estará no cardápio de hoje,
E ninguém sabe.
Tempero mais forte que o sal,
Salgado em lágrimas.
Uma lágrima.
E acabei esquecendo-me de avisar minha mãe
Que independente do que ela faça
Hoje o feijão não ficará bom.

Malbec

Noite, solidão familiar
E essa bebida seca com gosto suave de sangue
Embriagando-me pelas minhas confusas veias.
Minhas faces quentes e coradas,
Feito cicatrizes marcadas pelo porre de saber
Que do amor serei sempre uma escrava.
Mesa teimosamente muda,
E meus bêbados cílios por segundos dormem
Para que eu possa te desejar nos meus sonhos.
Olhos abertos, mar sem fim.
Engulo então minha melancolia,
Bebo em silêncio mais uma taça
E deixo que as lágrimas do vinho chorem por mim...

Covardia

E mais uma vez você me cala
Com esses seus versos roubados
Que nunca terminam no ponto final.