sábado, 30 de abril de 2011

Anoitece em mim
Tua ausência
Escuridão

Ausência do sol:
Solidão.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Cinema mudo

Enquanto ela escrevia
Algum vizinho fazia pipocas
E outro ouvia um blues.
O cheiro da margarina
E o som daquele sax
Lembraram-lhe cinema.
Caneta solta. Viagem.
Quando ela voltou
Só um suspiro no papel.
Desistiu então de escrever.
Filmes podem ter finais felizes,
Sua poesia não.

Bicho solto

Vai menina, solta esses cabelos
E deixa-os sentir o vento que dobra ali na esquina.
Caia no abismo que é o mundo lá de baixo
E permita-se voar. Sinta!
A tua beleza é tão mais linda arredia.

O amor tem mesmo dessas coisas, eu sei.
Machuca e cura. Nunca cicatriza.
Mas por favor, não desista!
Nenhuma mulher passa a vida contente
Na sua pequena gaiola de menina.

Reticências

Se foi o fim,
Se tinha que ser assim,
Eu ainda não entendi.
Na verdade nem deu pra sentir.
A tua presença foi tão passageira...
Como aquele primeiro amanhecer,
Interrompido às secas.
Silêncio tão imenso de um simples abraço
E duas vozes que não sabiam o que dizer.
Não era necessário.
Bastou aquele frio momento,
Aquele tempo sutilmente acabado,
Pra que um outro dia existisse
E eu voltasse para os teus braços.
Tantos dias amanheceram pra nós...
Mas agora você se foi novamente
E eu ainda não sei se outro dia nascerá.
O frio está voltando, devagar.
Estou aqui confusa, congelando,
Por não saber se anoiteço em outro cobertor
Ou se ainda espero pelo calor daquelas manhãs...

terça-feira, 26 de abril de 2011

A Resposta

Amor é o que a gente quiser deixar ser
E, algumas vezes, até mesmo
Aquilo que a gente nunca permitiu que fosse.

domingo, 24 de abril de 2011

Silêncio inafiançável

Há um quê de romantismo na maldade.
Mas houve tanta maldade no nosso romance
Que ele se tornou imperdoável.
E você pecou por tantos passos não dados,
Abraços cortantemente embaraçados
E por palavras que pareciam impossíveis.
Pecou pelas mentiras friamente repetidas,
E aquele sentimento calculadamente inventado.
Pecou pela distância dos nossos lábios.
Agora ficou o avesso de tudo o que já foi
E o que há em mim de mais apagado.
Apenas aquele silêncio nos meus olhos,
Minha indiferença pelo seu crime inafiançável.
Você deveria ao menos ter me amado
Na medida exata do quanto me magoou.
Pecar pelo excesso é menos incoerente.
Pecar por amor é ao menos perdoável.

sábado, 23 de abril de 2011

A doçura do Sal

Cansada dessa vida de vale nada,
De momentos intermináveis de faz-de-conta,
Com personagens tão bem desenhados
E sem movimento, sem vida, sem sangue.
De que isso vale? Nada.

O seu sorriso ensaiado e as suas respostas gravadas
Não arrancam mais aquele encanto dos meus olhos,
E eles agora riem de, e não mais para você,
E do seu pobre espetáculo, abandonado,
Solitário palhaço.

Quero o vermelho mesmo que com dor
Frente a esse verde-esperançoso sem cor alguma.
Quero um artista errado, sem estética montada
Que me apresente a vida, todos os dias, irregrada
E da maneira mais bem-humorada e humana.

Quero a vida antes no sentir do que no saber.
Quem sabe assim os dias me aplaudam
Sentindo no cheiro do sal e no gosto da flor
A doçura de me saber viva e destemida.
O conhecimento nunca traz alegria.

domingo, 17 de abril de 2011

Provérbio errado

Pra que namorado?
Se tenho nos meus retratos
As mais amigas companhias
E os mais felizes momentos registrados...

Pra que namorado?
Se todo amor termina mesmo em lágrima
E o choro já é um companheiro permanente,
Melhor ter cada dia alguém diferente ao meu lado.

Pra que namorado?
Talvez seja pra justificar os nossos pecados.
Mas eu desobediente ainda desconfio da minha vó
E sigo sozinha, mesmo quando posso ser bem acompanhada.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Gastronamor

E se você me fritar e eu gostar?
E se eu gostar demais?
E se eu gostar demais de gostar de menos?
E se desgostar, e o gosto ainda assim for bom?
E se melar, e o tal melado nos grudar?
E se queimar, e o fogo não machucar?
E se esfriar? E se de novo esfriar tudo?
Voltamos a nos cozinhar?

terça-feira, 12 de abril de 2011

Chuva em mim

Choveu em mim tuas lágrimas
Molhando cada folha dessa árvore
Seca e de raiz profunda que sou eu.
Com flores espinhosas e frutos podres,
E que ainda assim de você não se hidrata,
Nem suga nenhuma gota da tua vida.
Choveu você em mim, sempre chove,
Mas chove torto e nada agora rega.
Não sei mais se sou árvore ou pedra.

Doação

Sonho com o que o escuro dos meus olhos não alcança
E o que só o silêncio não explica.
Sonho com gritos enfurecidos de vida,
Em beijos serenos.
Neblina.
Visão confusa, mas ainda atenta,
Aceitando minhas próprias doenças,
Minhas culpas tão facilmente absolvidas.
Boemia?
Amor furiosamente pacífico,
Que só ataca heróis que se deixam morrer,
Madrugando, em mesas de bar, virando lágrimas.
Bebida.
Companhia das minhas aventuras mais reprimidas.
O meu sonho é do mundo, não é só meu.
Sonho com freqüência acompanhada.
Acordo sozinha.
O mundo também acorda com minha dança matinal,
E sempre fecha as cortinas pra quem comunga a própria vida,
Antes de recomeçar seu pesadelo particular.
Infinita...

sábado, 9 de abril de 2011

Banco de Cuidados

Enquanto eu ainda estou aqui na tua vida
Contando os minutos que me são de direito
Esperando que você finalmente me atenda
E injustiçada, pensando no alto preço que pago
Pra estar ao teu lado, mas sozinha

Posso de repente lembrar com mais cuidado
De outros quinze que agora me aguardam
Aqui do meu lado, ali na esquina
Valorizando muito mais o meu sorriso
Com atendimento preferencial e sem fila.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O encontro

Pálida, fria, tremendo.
Estou aqui agora, nervosa,
Encurvada diante de mim mesma
Rezando por alguma certeza,
Ou pelo menos uma frase pronta pra dizer.

Talvez esperando só um telefonema teu
Pedindo pra eu abrir logo a porta,
Pra eu não mais me fazer de morta
Nem fugir novamente da nossa vida,
E voltar pra’quele amor de ontem, resolvida.

Mas a única coisa que consigo agora
É morrer de medo do que eu possa ser,
Nesses infinitos minutos que vão existir,
E tudo o que neles pode acontecer,
Antes de te ver.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O canto de Libras

Só me restou ser essa bailarina desafinada,
Dançando sozinha uma vida parada,
Pois o canto que trago alfinetado na garganta
Não consegue dizer mais nada.

Agora só canto pelas minhas mãos,
Abraçadas sempre a uma folha vazia,
Criando inúmeras melodias vans
E canções que nunca serão ouvidas.

Instrumento sem música
Voz sem som
Eu sou o silêncio.
Silêncio.

Canto a humana poesia nesse momento.

Dívida eterna de uma mente com lembranças

Você não pagou sua dívida com meu coração
E me deixou individada com o mundo.
Estou agora devendo uma vida,

Negociada com lágrimas de espera,
Sorrisos nostálgicos,
E uma falta gigantesca do teu colo.

Buscando sempre o teu beijo apertado,
E aquele teu abraço de quebra-cabeça.
E confusa.

E se eu for obrigada a comprar outra vida
Que não seja a tua-minha,
E achar caro demais?

E se, deslumbrada com o novo,
Eu gostar das peças desse outro jogo
E não te quiser mais?

Fora qualquer resposta,
Existe agora apenas uma saudade,
Saudade imensa de tudo o que a gente viveu em prestações,

Pequenas parcelas de tanto sentimento.
Pequeno tempo eterno,
Infinita saudade.

E agora me pego aqui, idiota, vivendo de memórias,
Vendendo-me por tão pouco pela tua simples presença,
Sendo que pago sempre uma fortuna por esse teu sorriso barato.

domingo, 3 de abril de 2011

Café com Leite

Há muita cafeína nesse corpo
Que agora não dorme,
Insone esperando o teu.
Que sonha com cada gota quente
Que da tua boca já saiu.
Gotas negras de um amor sem razão,
De um amor sem distância,
Sem verdade.
Sem vergonha.
De um sentimento infinito,
Mas sempre acabado,
Marcado pelo cheiro do teu quarto,
E por aquela coisa que só o pó
Do meu peito despedaçado
Parece ser capaz de produzir.
Pra matar a tua sede de mim
E a tua fome da minha vida,
Tua vontade insaciável do que poderia ser,
Não tivesse passado da hora,
Não estivéssemos separados demais.
Distantes no tempo e no espaço,
Distantes nos nossos retratos,
Mas com a proximidade imensa
E quimicamente perfeita
De dois seres opostos,
De duas substâncias que nunca se retraem.
E como leite e café
Nossas vidas sempre se atraem.

Suicídio do Passado

A morte já não é o fim.
Morrer para si pode ser um recomeço
E suicidar-se na vida de alguém
O começo de uma nova vida.
Já não há certezas de tempo,
De certo e errado.
Apenas de um peito que bate duvidoso
Pedindo arrego,
Sofrendo calado,
Molhando a face de quem enterrou uma vida
Porque assim se fez necessário.

Conselho

Doendo novamente
O que já não tinha mais pra onde doer
Bem que minha mãe me dizia
Que o que parecia nunca era
Que poetas não amavam como na poesia
E que quem sofreria mais seria eu
Sim, mãe nunca erra
E a minha também não errou
Hoje meu coração entendeu...

Ócio Poético

Quedas
Retrocessos
Passados inacabados
Futuros incertos

Cores mortas
Noites fridamente frias
Dias quintanescos

Sonhos constantes
Abismos coloridos
Caio.

Caneta
Tinta
Poesia.

Clariciar...

É bonita.
É a vida.
São os pássaros nos quais nos tornamos,
São os vôos que arriscamos dar...