sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Bandeira branca

Carinho a gente não permite,
Não tem tempo, nem medida.
A gente sente e caminha,
Com toda dor que possa existir.
E dói bonito dentro da gente
Poder sentir o que não tem preço,
O que não consegue ter ponto
E não precisa nunca de presença.
Porque o amor é assim.
Vai e volta, aparece em rancor,
Mas também sabe ficar intacto,
Em silêncio, parado, pra sempre...
O maior ganho é aprender a tê-lo,
Sem em sua grandeza se arriscar,
Pois se de tanta fuga ele só machuca,
Melhor que ele sobreviva sem lutar.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Meu território

Ando fugindo da TV e do rádio
Dos romances, dos jornais e da rua
De roupas, meias e relógios
E do mistério da lua

Tentando correr de piadas
De políticos e vizinhos
Caixa de e-mails e antigas cartas
Digitais e fotos amareladas

Dos telefonemas na madrugada
De álcool, poesia e cigarro
De esmalte e batom vermelhos
Perfumes, redes e salto alto

Fuga constante de espelhos e facas
De pontes mal intencionadas
De acordar descabelada
E de grandes escadas

Fugindo do mundo...
Em um exílio de mim mesma

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Pupila quadrada

Meus olhos te aplaudiam
Enquanto tantos outros olhares me censuravam.
Vontade infinita de festa no meu coração
Gosto de velório naquilo que eu via.
Eu te via. Eu.
Mais ninguém te vê como eu
Os meus olhos são só meus
Mas você é do mundo, não me vê mais
Só vê quando outros olhares me buscam
Embriagados de um amor imenso
Como aquele que bebemos tempos atrás.
E sem me ver, você me sente
E prende a minha vida toda à sua
E mesmo não me querendo, ainda me quer
Como um cego por opção
Guardando a própria visão
Pra hora que achar mais oportuna.
Abra os teus olhos, meu querido
Enquanto minhas pupilas ainda são tuas.

Dor particular

Dorflex, cama e lágrimas.
Sim, a festa está pronta,
Só que é fechada.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Inferno das flores

Vivendo um inverno inacabado
Enquanto a minha primavera já devia estar bem resolvida...

Não-legal

Lembranças malditas e mal-educadas
Encontraram esse papel traidor e subornaram a tinta...
Lembro-me então que a gente era um só. E bastava.
Poeira e pó, fumaça e neblina. Solidão sempre acompanhada.
Soneto sem rima, mas poesia.
Poesia que buscou a métrica e se perdeu na busca,
Sozinha.
Hoje estás longe. Dos meus bem-quereres
E do meu próprio mal-me(te)-quero.
Viajas pelos caminhos mais tortos
Que eu não sei alcançar, nem quero.
Desististe de usar o sábio peito pra pensar
E agora só sabes usá-lo pra engolir e soprar
Mentira.
Ficção induzida. Alegria comprada.
Penso: quem me dera ser de novo a tua erva mais fina,
Pra temperar essa tua história sem ar, sem gosto,
E te queimar no abraço quente daquela nossa vida...
Mas já tens outra, barata, mentirosa e fria
E dizem que ela tem te feito feliz,
Ainda.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O que se pode ser

Silêncio. Faça silêncio.
Minha vaidade precisa descansar em paz.
A sua paz, paciência.
Faça o que eu quiser,
O meu grito mudo no seu ouvido não mudará.
Pode enlouquecer calada.
É poder pelo poder, poder não moderado.
Injusto? Sinta apenas.
E engula à seco, pro meu agrado.
Nem tente produzir saliva pro que não será escutado,
E não pense que a tinta no papel trará resultados.
Sinto muito. Sinto nada.
A cinta que te prende não será censurada.
Aceite a surra. Fique feliz amarrada.
Depois volte pra casa, chore escondido
E amanheça conformada.
Mas por favor, seja um nada.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Oração de Agosto

Vejo o mesmo pó do passado
Nos meus móveis novos de cada dia,
E esse mês com cara de limpeza
Vem querendo varrer meus desgostos,
Anunciando uma mudança de gostos,
Um novo tempo, tempo de ventania.
E não há como enterrar o que ainda vive,
O que, estando em mim, também sou eu,
Pois mesmo ensanguentado,
Empoeirado e despedaçado,
Um coração lento ainda é um coração,
E não deve nunca ser jogado no lixo
Nem debaixo da terra largado.
Cremamos então nossos fantasmas vivos,
Pois nem essa terra ingrata os mereceria.
Abramos todas as janelas, deixemos o vento
E novos aromas invadirem o lar,
Ainda que o novo também venha um dia
Feder esse maldito e ingrato enxofre
Que agora nosso inverno finda.
Acendamos os fogos, busquemos calor.
Paremos de conservar velhos corpos no gelo.
O que nos resta é jogar as cinzas pro ar
Ou, novamente, pra debaixo dos tapetes.
Não importa.
Cada um sabe a limpeza mais adequada
Depois que um cadáver deixa a própria casa.
Mas, que não deixemos o fogo de lado, jamais.
Amém.

Culpa falsa

Naquela clichê hora
Chorei todo o meu álcool
E jurei querer morrer
Sem nem saber por quê.

Sem sequer me sentir
Verdadeiramente culpada,
Vi-me naquela mesa de bar
Patética, abandonada.

E quem me acusava?
No fundo sou sempre eu.
Sou eu a maior culpada
Pelas culpas que me são dadas.

sábado, 2 de julho de 2011

Catando paixão

Distraída.
A minha vida apresentou-se toda na minha frente
Em forma de mil pedaços.
Tantos grãos inseparáveis,
Que precisavam ser analisados um a um.
Tentei ver em cada um daqueles pedacinhos
Uma nova possibilidade,
Analisava com cuidado e atenção,
Mas cada grão que eu puxava em minha direção
Trazia inevitavelmente um pouco de você.
Difícil separar passado e presente,
Impossível selecionar a memória.
Saudade.
De repente ouço:
- Filha, acorda, preciso ainda hoje do feijão!
Sim, meu amor também existe nos feijões.
E então o entreguei para que minha mãe cuidasse.
Logo mais ele será servido a pessoas,
Que por mais que me amem,
Irão mastigá-lo todo, sem sequer pensar no que estão ingerindo.
É sempre assim.
O amor nunca é devidamente apreciado.
O meu também não.
Sei que a minha melancolia estará no cardápio de hoje,
E ninguém sabe.
Tempero mais forte que o sal,
Salgado em lágrimas.
Uma lágrima.
E acabei esquecendo-me de avisar minha mãe
Que independente do que ela faça
Hoje o feijão não ficará bom.

Malbec

Noite, solidão familiar
E essa bebida seca com gosto suave de sangue
Embriagando-me pelas minhas confusas veias.
Minhas faces quentes e coradas,
Feito cicatrizes marcadas pelo porre de saber
Que do amor serei sempre uma escrava.
Mesa teimosamente muda,
E meus bêbados cílios por segundos dormem
Para que eu possa te desejar nos meus sonhos.
Olhos abertos, mar sem fim.
Engulo então minha melancolia,
Bebo em silêncio mais uma taça
E deixo que as lágrimas do vinho chorem por mim...

Covardia

E mais uma vez você me cala
Com esses seus versos roubados
Que nunca terminam no ponto final.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

21 de junho

Frio

O mesmo gelo covarde em todas as partes do meu corpo
E pra mim que pensava que um dia nada fosse mudar

Inverno

Sinto agora uma vontade inexplicável de apenas queimar
Queimar o que um dia já foi e me queimar no que ainda virá

Fogo

Correndo quente pelas veias nas quais me perco tanto
Meu coração ainda é um mundo de incertezas e desenganos

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O eclipse sou eu

Carros passando,
Pessoas indo e vindo,
Vidas tão comuns.
Ninguém viu o que estava ali.
Ninguém sabia o que acontecia aqui.
Mas eis que ela veio brincar
De ir e vir, de aparecer-sumir.
Sorriu lindamente, voltou
E novamente bagunçou tudo dentro de mim.
Quem subia o morro atrasado não viu,
Quem descia apressado também não.
Também, ninguém poderia notar
O que houve entre ela e eu,
Nem sequer suspeitar
O que sempre existiu entre eu e ela.
Entre as luzes da cidade, seus barulhos e suas pessoas,
O nosso silêncio, o nosso breu.
Muitos perderam o que houve com ela naquela hora,
O mundo nem imagina o que comigo aconteceu.
Mas ela pode,
Ela é a lua.
E eu?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Tatuagem de Areia

Esse tom de areia por todo o meu corpo
E tua pele ainda nele tatuada
Como uma maré que nunca baixa
Uma ressaca de tantas lágrimas
Tantas ondas pesadas de calor
E uma queimadura que ficou tão salgada
Frias gotas que não deveriam molhar mais nada

Mas basta em pensamento nadar
Que me afogo outra vez nessa tua vida
E em nenhuma outra água desejo mergulhar.

Lua Nova

Nua
Sou lua
Sou tua...

Tatua minha pele no teu corpo essa noite
Mas amanhã deixa outra mulher machucar
Todas as cicatrizes que eu te deixar

Pra você sou lua nova:
Estou sempre,
Sem estar.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Libertações

A minha melancolia é sempre a última a se embriagar.
Sempre há uma dose afim de mim.
Cada gota de cada coisa torna-se necessária
Quando não existe mais o que se engolir.

A minha ansiedade é sempre a última a se deitar.
Sonho sempre com os olhos clareados de dor,
E vivo insonemente pensamentos virtuais,
Querendo adormecer o que nunca acordou.

A minha poesia é sempre a primeira a me machucar.
No entanto a carrego com carinho nos braços
Como uma cruz que não tem peso
E ainda assim tem o poder de libertar.

sábado, 30 de abril de 2011

Anoitece em mim
Tua ausência
Escuridão

Ausência do sol:
Solidão.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Cinema mudo

Enquanto ela escrevia
Algum vizinho fazia pipocas
E outro ouvia um blues.
O cheiro da margarina
E o som daquele sax
Lembraram-lhe cinema.
Caneta solta. Viagem.
Quando ela voltou
Só um suspiro no papel.
Desistiu então de escrever.
Filmes podem ter finais felizes,
Sua poesia não.

Bicho solto

Vai menina, solta esses cabelos
E deixa-os sentir o vento que dobra ali na esquina.
Caia no abismo que é o mundo lá de baixo
E permita-se voar. Sinta!
A tua beleza é tão mais linda arredia.

O amor tem mesmo dessas coisas, eu sei.
Machuca e cura. Nunca cicatriza.
Mas por favor, não desista!
Nenhuma mulher passa a vida contente
Na sua pequena gaiola de menina.